DESENVOLVIMENTO DA DISCRIMINAÇÃO AUDITIVA DE FONEMAS EM CRIANÇAS DE 16 A 48 MESES: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO
Júlio Ferreira Filho; Luiz Barbosa de Freitas; Priscila de Araújo Lucas
Resumo
Introdução. A discriminação auditiva de fonemas desempenha um papel essencial no desenvolvimento da linguagem oral, sendo um dos pré-requisitos para a aquisição e produção da fala. Em bebês e crianças pequenas, essa habilidade se aprimora progressivamente à medida que o sistema auditivo e as funções cognitivas se desenvolvem. O presente estudo teve como objetivo explorar a discriminação auditiva de fonemas em crianças de 16 a 48 meses. Método. Foram utilizados testes audiológicos combinados a tarefas específicas de discriminação auditiva, adaptadas para diferentes graus de dificuldade fonêmica, em um ambiente controlado, com uma cabine acústica e equipamentos audiológicos apropriados. Resultados. Verificou-se que a capacidade de discriminação auditiva melhora significativamente com a idade. Crianças mais velhas (33 a 48 meses) apresentaram um desempenho superior em comparação com as mais novas (16 a 32 meses), especialmente em tarefas com menor grau de dificuldade. Discussão e Conclusão. Os achados deste estudo indicam que a capacidade de discriminação auditiva de fonemas se aprimora com o avanço da idade, o que está alinhado com pesquisas sobre o desenvolvimento auditivo e linguístico infantil. A inconsistência das respostas no grupo de crianças mais novas (16 a 32 meses) sugere que, nessa fase, o refinamento da percepção auditiva ainda está em construção, o que pode impactar a aquisição inicial da linguagem. Esse resultado corrobora a literatura sobre a maturação do sistema auditivo central, que ocorre progressivamente nos primeiros anos de vida, influenciando a habilidade de distinguir sons similares. Por outro lado, o desempenho mais preciso do grupo de 33 a 48 meses aponta para um progresso natural na discriminação auditiva, possivelmente associado a uma maior exposição à fala e ao desenvolvimento cognitivo. Tais descobertas destacam a importância de estímulos auditivos frequentes e variados, que podem potencializar a aquisição da linguagem e prevenir dificuldades na articulação da fala, além de ressaltar a importância de avaliar e monitorar a discriminação auditiva precocemente, podendo, com isso, prevenir problemas de articulação e promover um desenvolvimento linguístico saudável. Por fim, destaca-se o potencial do uso de métodos dinâmicos e tecnológicos para aumentar o engajamento das crianças e aprimorar a eficácia das intervenções.
Palavras-chave
Referências
Anderson, E. (1949). Introgressive hybridization. John Wiley and Sons, Chapman and Hall, Ltd.
Attoni, T. M., Quintas, V. G., & Mota, H. B. (2010). Avaliação do processamento auditivo e da discriminação fonêmica em crianças com desenvolvimento fonológico normal e desviante. Brazilian Journal of Otorhinolaryngology, 76, 762-768.
Brancalioni, A. R., Bertagnolli, A. P. C., Bonini, J. B., Gubiani, M. B., & Keske-Soares, M. (2012). The relation between auditory discrimination and phonological disorder. Jornal da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, 24, 157-161. https://doi.org/10.1590/S2179-64912012000200012
Cáceres-Assenço, A. M., Giusti, E., Gândara, J. P., Puglisi, M. L., & Takiuchi, N. (2020). Por que devemos falar sobre transtorno do desenvolvimento da linguagem. Audiology Communication Research. https://doi.org/10.1590/2317-6431-2020-2342
Carroll, J. M., Snowling, M. J., Stevenson, J., & Hulme, C. (2003). The development of phonological awareness in preschool children. Developmental Psychology, 39(5), 913.
Dinsmoor, J. A. (1995). Stimulus control: Part I. The Behavior Analyst, 18, 51-68. https://doi.org/10.1007/BF03392691
Dodd, B. E., & Campbell, R. E. (1987). Hearing by eye: The psychology of lip-reading. Lawrence Erlbaum Associates, Inc.
Gillam, S. L., & Ford, M. B. (2012). Dynamic assessment of phonological awareness for children with speech sound disorders. Child Language Teaching and Therapy, 28(3), 297-308.
Gravel, J. S., & Traquina, D. N. (1992). Experience with the audiologic assessment of infants and toddlers. International Journal of Pediatric Otorhinolaryngology, 23(1), 59-71. https://doi.org/10.1016/0165-5876(92)90080-9
Green, G. (2001). Behavior analytic instruction for learners with autism: Advances in stimulus control technology. Focus on Autism and Other Developmental Disabilities, 16(2), 72-85. https://doi.org/10.1177/108835760101600203
Hall, M. E. (1938). Auditory factors in functional articulatory speech defects. Journal of Experimental Education, 7(2), 110-132.
Hansen, B. F. (1944). The application of sound discrimination tests to functional articulatory defectives with normal hearing. Journal of Speech Disorders, 9(4), 347-355.
Jensen, J. K., & Neff, D. L. (1993). Development of basic auditory discrimination in preschool children. Psychological Science, 4(2), 104-107. https://www.jstor.org/stable/40062517
Jerger, S., Damian, M. F., McAlpine, R. P., & Abdi, H. (2017). Visual speech alters the discrimination and identification of non-intact auditory speech in children with hearing loss. International Journal of Pediatric Otorhinolaryngology, 94, 127-137. https://doi.org/10.1016/j.ijporl.2017.01.009
Keske-Soares, M., Blanco, A. P. F., & Mota, H. B. (2004). O desvio fonológico caracterizado por índices de substituição e omissão. Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, 9(1), 10-18.
Lamprecht, R. R. (2004). Aquisição fonológica do português. Artmed Editora.
Lewkowicz, D. J., & Hansen-Tift, A. M. (2012). Infants deploy selective attention to the mouth of a talking face when learning speech. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, 109(5), 1431-1436.
Lowe, R. J., & Domingues, M. A. (1996). Fonologia: Avaliação e intervenção: Aplicações na patologia da fala. Artes Médicas.
MacDonald, V. H., & Schultheiss, P. M. (1969). Optimum passive bearing estimation in a spatially incoherent noise environment. Journal of the Acoustical Society of America, 46(1A), 37-43.
Mange, C. V. (1953). A study of speech sound discrimination within words and within sentences (Dissertação). Pennsylvania State College.
Mase, D. J. (1946). Etiology of articulatory speech defects (Dissertação No. 921). Teachers College, Columbia University.
Origlia, A., Roda, A., Zmarich, C., Cosi, P., Nigris, S., & Colavolpe, B. (2020). Gamified discrimination tests for speech therapy applications. In Il parlato nel contesto naturale - Speech in natural context (pp. 195-216). Associazione Italiana Scienze della Voce (AISV). https://doi.org/10.17469/O2104AISV000011
Pereira, L. F., & Mota, H. B. (2002). Tratamento fonológico baseado nos contrastes de oposições máximas. Pró-Fono, 14(2), 165-174.
Preston, J., & Edwards, M. L. (2010). Phonological awareness and types of sound errors in preschoolers with speech sound disorders. Journal of Speech, Language, and Hearing Research, 53(1), 44-60. https://doi.org/10.1044/1092-4388(2009/09-0021)
Reid, G. (1947). The etiology and nature of functional articulatory defects in elementary school children. Journal of Speech Disorders, 12(2), 143-150.
Robertson, E. K., Joanisse, M. F., Desroches, A. S., & Ng, S. (2009). Categorical speech perception deficits distinguish language and reading impairments in children. Developmental Science, 12(5), 753-767. https://doi.org/10.1111/j.1467-7687.2009.00806.x
Rvachew, S. (2007). Phonological processing and reading in children with speech sound disorders. American Journal of Speech-Language Pathology, 16(3), 260-270. https://doi.org/10.1044/1058-0360(2007/030)
Travis, L. E., & Rasmus, B. (1931). The speech sound discrimination ability of cases with functional disorders of articulation. Quarterly Journal of Speech, 17(2), 217-226.
Van Riper, C. (1947). Speech correction: Principles and methods. Prentice Hall.
Wertzner, H. F. (2004). Fonologia: Desenvolvimento e alterações. In Tratado de Fonoaudiologia. Roca.
Submetido em:
02/06/2025
Revisado em:
12/06/2025
Aceito em:
16/06/2025